Quem
nunca ouviu a célebre frase: você sabe com quem está falando? Acredito que
alguém já passou por isso, ou então, conhece alguém que tenha passado por essa
situação. Comigo aconteceu de uma maneira peculiar.
O
ano foi 2005, época em que eu trabalhava no posto de gasolina, local onde
vendia a gasolina mais barata do centro de Brasília. Um emprego simples. Nada
de extraordinário acontecia, a não ser, a movimentação intensa que acontecia
ali. Durante o horário de pico, ou seja, todos os dias, eu tinha atendido mais
de 100 carros, antes das 10 horas da manhã.
Formavam-se
filas quilométricas de carros. Um dos principais motivos pelos atrasos no
atendimento – o pagamento era feito por dinheiro ou cheque. No caso de
pagamento com o cheque, o frentista devia seguir as seguintes instruções: o
cliente deve mostrar o cheque junto com algum documento de identificação,
depois o frentista pega e leva o documento junto com o cheque para o chefe de
pista (ou gerente do turno), para verificar e autorizar se estava tudo nos
conformes, e depois devolvia a identidade para o cliente preencher o cheque.
Imagine o quanto tempo isso levava.
Durante
a rotina intensa de trabalho, por um milagre ou azar, na minha “ilha”, não
havia nenhum cliente. Então, eu sinalizei para um carro que estava no final da
fila vir até onde eu estava. O cliente chegou com toda a pressa e já foi logo
dizendo “enche o tanque!”.
- Gasolina ou álcool e qual
é a forma de pagamento? – perguntei.
- Gasolina e o pagamento é
no cheque – o cliente respondeu.
Peguei
a chave, abri o compartimento do tanque e deixei a mangueira fazendo seu
trabalho. Enquanto isso, eu fui adiantando meu lado, pedi o documento de
identidade e a folha do cheque para confirmar a identificação de ambos.
- Para que isso? – o cliente
questionou.
- São normas da casa.
Preciso verificar se o senhor é o dono do cheque – falei
- Na minha identidade
ninguém toca!
- Eu só preciso dela para
mostrar para o chefe de pista – pedi com cautela, porque eu percebi que ele
estava se exaltando.
- Não importa! Ninguém toca
na minha identidade. Se você quiser, chame o chefe de pista até aqui.
Respirei
fundo, caminhei pacientemente até o chefe de pista e avisei sobre o pequeno
problema que estava acontecendo. O chefe de pista voltou para seguir as normas de
trabalho. Enquanto isso, eu terminava de abastecer o carro do chato.
O
chefe de pista verificou a identidade e o cheque, tudo ok. O cliente preencheu
o cheque, confiro o valor, e depois ele sai.
Vou até o chefe de pista e
pergunto:
- O que diabo tem aquela
identidade que ele não queria mostrar?
- Não tinha porra nenhuma,
só porque ele era um alto cargo nas forças armadas.
Paro
e começo a refletir sobre o acontecido “o cliente pensa que é melhor do que eu,
por ser frentista?”. Rapidamente acordo da minha distração, por causa de uma
buzina insistente de outro cliente querendo abastecer o carro.
Vou até o carro e pergunto:
- Gasolina ou álcool?
Até breve...
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