terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A fera

Reuters

Aposentei meus lápis coloridos. Voltei à estaca zero, onde o recomeço é apenas um estado de espírito. O sepulcro caiado que habitava em mim, morreu. A fera estava apenas adormecida, com ela havia perdido o brilho nos olhos. Não quero páginas novas, mas sim, jornais velhos são os que fazem as notícias. Vivo no movimento cíclico.

As agitações são como brincar num touro mecânico na tempestade. Gotas. Mais gotas. Pingos da precipitação caem sobre mim. Me acalmo na letargia. Vou a um abrigo e acendo meu cigarro. Espero até a última cinza se dissipar. Enquanto caminho ao encontro do besta mecanizada, olho para o céu. As coisas subtendidas começam a fazer sentido. Subo. Começa o rodopio, lentamente atinge o ponto mais frenético. Giro 70º, faço curvas – e caio. Imóvel. Corto os meus dedos, porque cansei de sangrar internamente.

até breve...

sábado, 7 de janeiro de 2012

Marca inapagável

Auto definir-se é limitar a um pensamento. Sou a construção de tudo de bom e mal. Gosto do meu sagrado, mas amo o meu profano. Os fantasmas do passado jamais sairão da minha cabeça. Dou-lhes as minhas lágrimas para alimentá-los, só assim vou soerguendo meu ego.

Vou usar a máscara vermelha para livrar-me dos demônios que me devastam. Pintarei meu corpo com a marca inapagável. Cada traço, cada ponto da tatuagem vinha a memória de uma vida frágil. Meus olhos ainda têm as cicatrizes das suas impermanentes visitas.

Minha melancolia é o que me mantém desperto diante da vida. Vejo minhas próprias cores para me fazer entendido. Faço-me tolo diante dos tolos, jogo-lhes confetes prateado.

Festejo a árvore da vida com flores verdes, galhos secos e tortos, porém com ramificações mortas.

até breve...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Gostinho de café

Primeiros dias do trabalho. Fase de adaptação. Principalmente tento manter a postura para não demonstrar que estou com muito sono. Fico a maior parte do tempo calado, reservado na minha, e isso aumenta mais a minha sonolência. Depois de um bom tempo desempregado voltar à rotina do proletariado não tem sido fácil.


De vez em quando eu levanto para pegar água ou um copo de chocolate quente, afinal, eu não bebo café, e só assim tento despertar desse sono descontrolável. No trabalho há uma máquina que além servir chocolate quente, tem café, capuccino, mocaccino*, leite quente etc., e o melhor de tudo é de graça.


Às vezes minha curiosidade fala mais alto do que a razão. Eu nunca tinha visto o mocaccino, então, fui inventar de experimentar o tal mocaccino. “Deve ser gostoso e só com um pouco de café, nem deve sentir o gosto, e preciso de um pouco de cafeína no sangue” – pensei.


No começo foi tranqüilo, coloca o copo na base e é só apertar o botão para que os líquidos comecem a descer pelo caninho e cairem direto no copo. Nada de extraordinário. Mas, quando eu menos espero aparece uma mangueirinha de café e saiu derramando café em toda base da máquina. Fui tentar reverter à situação, só fiz piorar. Melei minha mão, o copo, a base da máquina. Ainda por cima nem tomei o tal mocaccino porque era muito ruim. A minha sorte é que eu estava sozinho na copa.


Com toda a situação, voltei para a minha sala sem sono, sem chocolate quente, sem o mocaccino, e com uma expressão de que nada aconteceu.



* Mocaccino é feito com café na mesma proporção que o leite espumante, chocolate ou calda de chocolate e eventualmente coberto com canela.


até breve...