sábado, 21 de abril de 2012

Nomes trocados




Shopping lotado. Você chega para pessoa e diz “Oi fulano de tal, tudo bem? Lembra-se de mim?”. A pessoa vira para você, por educação, te cumprimenta sabendo que aquele não é o nome do fulano correspondido. Você percebe o erro, conversa um pouco e depois vai embora. Até associar nome e pessoa, um simples aperto de mão se transforma num constrangimento para ambas as partes.
E quando isso acontece ao telefone? Principalmente quando na agenda do seu celular há três Alines, quatro Fabrícios e diversos outros nomes comuns. Ou então, quando você pensa que é a Patrícia quem está te ligando, mas não, é a outra Patrícia quem te ligou.
Celular tocando e vejo na agenda que é o Fernando (nome fictício, porque não me recordo exatamente com quem aconteceu), atendo na maior empolgação:
- Fala fela da puta, blz?
- Oi Higor, aqui é o pastor Fernando, tudo bem?
Automaticamente fico super constrangido e tento reverter à situação:
- “Ah, eh, oi pastor, tudo bem?”.
- Tudo bem, você tem ido à igreja?
Depois desse cumprimento e uma pergunta daquela, devo admitir que estivesse precisando de muita oração. Agora me pergunto quem nunca deu mancada ao associar nomes, endereços, cumprimentos etc?

até breve...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Posso?



Quem nunca ouviu a célebre frase: você sabe com quem está falando? Acredito que alguém já passou por isso, ou então, conhece alguém que tenha passado por essa situação. Comigo aconteceu de uma maneira peculiar.
O ano foi 2005, época em que eu trabalhava no posto de gasolina, local onde vendia a gasolina mais barata do centro de Brasília. Um emprego simples. Nada de extraordinário acontecia, a não ser, a movimentação intensa que acontecia ali. Durante o horário de pico, ou seja, todos os dias, eu tinha atendido mais de 100 carros, antes das 10 horas da manhã.
Formavam-se filas quilométricas de carros. Um dos principais motivos pelos atrasos no atendimento – o pagamento era feito por dinheiro ou cheque. No caso de pagamento com o cheque, o frentista devia seguir as seguintes instruções: o cliente deve mostrar o cheque junto com algum documento de identificação, depois o frentista pega e leva o documento junto com o cheque para o chefe de pista (ou gerente do turno), para verificar e autorizar se estava tudo nos conformes, e depois devolvia a identidade para o cliente preencher o cheque. Imagine o quanto tempo isso levava.
Durante a rotina intensa de trabalho, por um milagre ou azar, na minha “ilha”, não havia nenhum cliente. Então, eu sinalizei para um carro que estava no final da fila vir até onde eu estava. O cliente chegou com toda a pressa e já foi logo dizendo “enche o tanque!”.
- Gasolina ou álcool e qual é a forma de pagamento? – perguntei.
- Gasolina e o pagamento é no cheque – o cliente respondeu.
Peguei a chave, abri o compartimento do tanque e deixei a mangueira fazendo seu trabalho. Enquanto isso, eu fui adiantando meu lado, pedi o documento de identidade e a folha do cheque para confirmar a identificação de ambos.
- Para que isso? – o cliente questionou.
- São normas da casa. Preciso verificar se o senhor é o dono do cheque – falei
- Na minha identidade ninguém toca!
- Eu só preciso dela para mostrar para o chefe de pista – pedi com cautela, porque eu percebi que ele estava se exaltando.
- Não importa! Ninguém toca na minha identidade. Se você quiser, chame o chefe de pista até aqui.
Respirei fundo, caminhei pacientemente até o chefe de pista e avisei sobre o pequeno problema que estava acontecendo. O chefe de pista voltou para seguir as normas de trabalho. Enquanto isso, eu terminava de abastecer o carro do chato.
O chefe de pista verificou a identidade e o cheque, tudo ok. O cliente preencheu o cheque, confiro o valor, e depois ele sai.
Vou até o chefe de pista e pergunto:
- O que diabo tem aquela identidade que ele não queria mostrar?
- Não tinha porra nenhuma, só porque ele era um alto cargo nas forças armadas.
Paro e começo a refletir sobre o acontecido “o cliente pensa que é melhor do que eu, por ser frentista?”. Rapidamente acordo da minha distração, por causa de uma buzina insistente de outro cliente querendo abastecer o carro.
Vou até o carro e pergunto:
- Gasolina ou álcool?

Até breve...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Linha reta



Meu corpo pertence à terra, mas minhas palavras são do vento. Amarro os versos na janela do meu quarto, para que as orações alcancem o cume do próprio Deus. Escrevo para haja esperança em meus olhos marejados. Descrevo para me libertar. Quisera eu ter a mesma alegria de um cão, ver o mundo em linha reta, entretanto, o que eu vejo, não é o que sinto. O que ouço são vocábulos inexistentes.

O tempo está cada vez mais curto, sinto-o escorregando pelas frestas de meus dedos. A qualquer momento a caixinha vai parar de tocar a melodia da harpa cristã. A bailarina lentamente vai perdendo os rodopios.

Meu maior medo era um quarto escuro, e apenas ao toque do interruptor as dores iam embora. Que triste lembrança. Hoje, medo me traz inspiração. Sou seco e molhado. Corro. Piso na cabeça da serpente com botas de ouro do rei Midas, feitas especialmente para mim. Fui em uma cigana para jogar o tarô, durante a consulta, apareceu à carta da Morte, presságio de uma nova fase ou a morte voluntária se aproxima?

até breve...