quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Bonecos do lixo


Basta! Os manequins estão fora de cogitação. Hoje, o certo é ser incerto. Gosto das coisas incomuns, palavras chulas me levam ao êxtase. Os imundos me atraem. Quero pessoas sem máscaras ou maquiagem, as cicatrizes são mais interessantes. O sagrado não me atrai, o correto é ser lascivo.

Sem que percebamos, meticulosamente nos afeiçoamos de maneira involuntária. Quero as feridas mais profundas e as transformações mais plenas. A rebeldia é muito blasé. Expunham a originalidade, mas sem dedos apontados para os lados. Um pouco de pimenta no tempero, não faz mal a ninguém. Seja social, mas sem ser banal.

Cansei de morbidez humana. Os erros nos mostram como somos. A alma pecadora é a que procura rendição. Clamo a deusa Atena a sabedoria plena, para aguentar incólume esta dor. Enquanto puder, vou usar a borracha mais velha que estiver esquecida na gaveta, e ressuscitarei os fantasmas do passado. Quero que a lua seja cúmplice no barateamento da perfeição humana, que se espalha por uma névoa branca, a respiramos mas não sentimentos. As aquietações são desvendadas, aos poucos mortificadas ou quem sabe esquecidas. A partir de hoje, preparo-me para que venha o banquete de carne crua.

Inspirado no texto de Fernando Pessoa, poema Linha Reta

até breve


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Farol


Encontros e desencontros são efêmeros, vorazes, com uma força que nos consomem a cada instante. Mas você continua a mesma, leal a cada momento. Suas lágrimas exprimem a verdade, o valor de um sentimento jamais vivido por estes peregrinos da noite... Da janela contemplamos o mesmo farol de uma luminosidade estática. Sempre pulsando o amarelo ocre. Provocando-nos ir ou vir. Nossas vidas são parecidas a este pequeno refletor, alerta a todo instante.

Permanecemos cautelosos a tudo e a todos, mesmo assim, o controle foge de nossas mãos. Esvaindo-se pelas falanges, por minúsculas frestas. Apesar disso, ficamos aqui estáticos observando o círculo aceso sempre piscando, confundindo-se entre as estrelas, precavendo pedestres e motoristas. Como essa lanterna sustentada por um concreto, sem nenhuma perspectiva de se locomover, assim somos nós. O mundo é frenético, mas a sensação é de imobilidade. Os inominados estão em um coma involuntário, deslumbrados com a paisagem. Paralisados a cada instante, o farol está estável, piscando seu torpor.

até breve

sábado, 10 de setembro de 2011

Caminho das orquídeas

National Geographic

É como se eu te sentisse ao meu lado... apenas por alguns segundos. Estou viciado neste amor. Seu beijo é como uma droga maldita. Não consigo sair deste vício. Em poucos minutos decorei o seu jeito de andar, os movimentos com as mãos, o abrir e fechar de olhos, são detalhes minuciosos que fazem toda a diferença. Devoro-te sem ao menos ter te consumado.

Os dias estão se prolongando. Preciso te encontrar para construirmos nosso telhado. Quero te levar no caminho das orquídeas. Como assim você nunca foi a este lugar? Sei que estou me precipitando, deve ser a idade ou imaturidade. Quero-te por inteiro, esta é a minha escolha.

Não precisamos atravessar a rua de mãos dadas. Ao seu lado me sinto completo. Você traz emoções jamais conhecidas ou sequer imaginadas. Infelizmente, isto é apenas uma utopia.

De volta à mansidão, calmaria e a expiação. No caminho do amor, não existe uma pista de mão dupla, mas sim, uma via única por onde os sentimentos vagueiam. Gostaria de reciprocidade, infelizmente, você jogou o dado da sorte e despediu-se. Sem ao menos um adeus. Desejava contar as estrelas com você, mas, especialmente adoraria acordar ao seu lado.

A última recordação que tenho é uma rua com tijolos vermelhos, próxima a uma esquina, local do nosso primeiro e último encontro. Você virava, mas, antes disso, olhava nos meus olhos e ia embora. Deixando apenas um perfume de orquídeas.

até breve

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O taxidermista

Fonte: National Geographic


Meus olhos estão marejados pela dor de crescer. Neste momento descanso na disciplina, com causas e arrependimentos. Permaneço numa sombra qualquer, onde pensamentos são escalpelados gradativamente. Depois de alguns minutos levanto-me e observo os transeuntes caminhando lentamente. Vou em direção a eles. Aos poucos vou observando um mormaço aumentando. Durante o percurso, espero o marasmo se dissipar, mas ele insiste em ficar ao meu lado.

Olho ao redor me transformando em um simples humano. Ao saber que essa sensação ia ficar em mim, escolho voltar para a mesma sombra. Reconforto-me em saber que escreverei minha história.

até breve