segunda-feira, 19 de março de 2012

Estrelas, verrugas e inocência

- Um, dois, três...
- O que você está fazendo? – Débora pergunta assustada.
- Estou contando estrelas – Carlos responde.
- Cê tá doido? Não pode contar estrelas.
- Por que não?!
- Porque cada estrela que você é uma verruga que vai nascer no seu corpo.
- Ah, de onde você tirou essa ideia? Eu nunca ouvi falar que contar estrelas pode dar verruga no corpo.
- Deer, todo mundo sabe que isso faz mal. Igual você colocar o “pozinho” que sai da asa da borboleta nos olhos você fica cego, e o pior de tudo, a cegueira é para toda a vida.
Carlos olha assustado para a amiga e pergunta:
- Agora eu vou ter milhares de verrugas pelo corpo?
- Acho que não, desde que você faça da maneira certa.
- Como é então?
- Deve contar as estrelas sem apontar o dedo, assim, você não pega as verrugas.
- Qual é a diferença em apontar ou não o dedo?
- Eu não sei, só que me falaram que é desse jeito. Mas, você quer ter verrugas pelo corpo ou quer me escutar?
Carlos continua contando as estrelas com mais precaução. Ele olha para o céu estrelado e continua contando os vagalumes estelares, mas sem apontar o dedo:
- Um, dois, três...

até breve......

sexta-feira, 16 de março de 2012

O nada


Aprende-se que o nada não existe, mas como não? Olha ele ai, bem ao seu lado. Viu?! É melhor respeitá-lo, porque o nada está de olho. Viver o presente é a mesma coisa do que conviver com o nada. Corro, faço amigos para o nada. Faço parte da indústria do nada. Um das dicas que me disseram “dance na chuva, assim você pode despistar o nada”. Segui as instruções, as gotas caiam sobre mim, levemente, mas quando eu me dei conta, o nada estava bem próximo, como um cão-guia. As minhas músicas são apenas subterfúgios.
Caminho e ando de mãos com você para tentar que conseguia vencer o nada, mas inútil foi a tentativa, o nada se lançou mais uma vez sobre nós. Não adianta correr, deixe apenas o nada te aliviar. Me envolvo, erotizo com a fumaça do nada. Me deixo levar as circunstâncias, aos movimentos do nada. Aprendi a conviver com o nada, eu escrevo para Ele. Sinto informar que me conformei com o nada. Finalizo com a seguinte confirmação, do nada eu vim e daqui a pouco voltarei ao lugar de onde eu vim: do nada.
até breve...

quarta-feira, 7 de março de 2012

O cão e o cego


O motorista abriu a porta traseira do ônibus para entrar um cego com o seu cão-guia. Notei que todos os passageiros olhavam fixadamente para o cego. Novamente observei o cego e o seu companheiro, e me perguntei “deixa eu conferir se ao invés de um cão, entrou um dinossauro”. Virei para o lado e realmente tive a certeza de que entrou no coletivo era apenas um cão.
“Sorte (ou azar) do cego para não ver os olhares curiosos de um simples cão amigo dentro do transporte público. Quão grandioso o momento, o cão e o cego”, ironicamente pensei.
até breve...

sexta-feira, 2 de março de 2012

O túnel


Exprimo a dor dos que não vejo

Escrevo linhas certas, mas com palavras sórdidas, porcas.

Registro o mundo animal que habito

Entro no túnel onde a luminosidade é fraca para alumiar a todos

Lobisomens, feras, percevejos em volta de uma única luz

Sísifo continua seu trabalho, fazendo com que a pedra role no chão vermelho

até breve...