quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sabedoria da rodoviária

National Geographic


Lendo meu livro tranquilamente na poltrona do ônibus com o movimento de um lado para o outro, tem horas que o sono aparece. Cochilo, acordo, cochilo, acordo. Desperto rapidamente e fico na posição certa na cadeira, assim continuo concentrado na leitura, mas antes disso, olho para um lado e vejo um casal de adolescentes se beijando.

Mais a frente o cobrador com cara de mexicano tenta proteger suas costas do sol escaldante. Em uma parada próxima ao Setor de Indústrias, algo chama a atenção dos passageiros e, principalmente, a minha. Duas gordinhas peculiares entram no ônibus fazendo uma pequena bagunça. Chegam causando tumulto! Ao que percebo todos reparam nas moças entrando no coletivo. Depois dessa situação o sono foi-se embora.

Uma delas segura uma latinha de cerveja na mão enquanto a outra paga a passagem de ônibus. Sentam atrás de mim. Que sorte a minha (pensei). Alguns minutos se passaram, deixo a leitura de lado, para escutar o que as amigas estão conversando alto. Uma das gordinhas se separou recentemente e começou a reclamar do seu ex-companheiro. Conversa vai, conversa vem, até que, o ponto alto da conversa é esse:

- Sabe, ele agora que dar uma de gatinho fica paquerando a torto e a direita as meninas.

- Pois é.

- E tem mais, ele só fica na cachaça o dia inteiro e não cuida dos filhos.

- Pois é.

- O que custa ele cuidar um pouco dos filhos, assim eu economizo na babá. Tá difícil demais essa situação. Mas eu vou reverter.

- Ué, mas você não está correndo atrás?!

- Lógico que estou! Tu achas que eu durmo no ponto? Tem altos gatinhos atrás de mim. Só digo uma coisa: "O importante não e a gordura, mas sim, como se faz o angu". Esse negócio que as pessoas falam de pessoa gorda isso ou aquilo e não faz sexo.

Desesperadamente olho para o lado da janela e começo a rir. Assim como eu, os outros passageiros devem tá rindo da situação ou chocados pela conversa franca das duas. Só que o diálogo não acabou ainda falta fechar com chave de ouro.

- Sabe de uma coisa, eu não sou gorda, eu estou gorda. Eu nem como muito, meu problema mesmo é a bebida, cerveja para ser sincera. Ela dá um gole na cerveja.

- Humm. Mas porque você diz isso?

- Ontem teve uma festa no trabalho com vários salgadinhos, eu não peguei nenhum. Mas quando rolava a bebida, eu caia matando. Agora você vai ver, vou só beber whisky com energético. Vou emagrecer pra caramba!

Olho mais uma vez a janela e seguro o sorriso. Sorte que a próxima parada é a minha. Chego à rua e dou uma gargalhada daquela situação. Depois disso, paro e reflito, realmente, auto-estima é algo a ser preservado no ser humano. Ou ela quer fazer aquilo por vingança ou simplesmente que aproveitar o tempo perdido que não teve com o seu ex-companheiro. Uma coisa a gordinha tem de sobra: ousadia. Não é qualquer um que faz gostoso e admite em público.


até breve...

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