terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Talento desperdiçado

National Geographic

Já tive tempos de vacas gordas. Até a minha 5ª série estudei em escola particular com uma ótima infra-estrutura. Piscina, duas quadras grandes de futebol, parquinho, salões para as apresentações culturais e artísticas e uma banda. Havia vários instrumentos, dos mais variados tipos e tamanhos. Trompete, bumbo, tambor, pratos, xilofone etc. Todos guardados dentro de um armário gigante. “Qual instrumento vão me deixar tocar?”, me perguntava. “Acho que vou começar com o tambor ou com os pratos, porque são os mais fáceis de aprender, depois vou me aprimorando com outro”.

Toda sexta-feira tinha o momento cívico, e depois os ensaios da banda, que era aberto a todos os estudantes. E era a ocasião de namorar os instrumentos musicais, porque eu ainda não podia tocar os instrumentos. A idade não permitia. Eu via os alunos mais velhos fazendo o som uníssono, “que incrível”, refletia.

Durante a minha ansiosa espera para poder pegar em algum aparelho musical, me comportava como um aluno “normal”. Como todos sabem, eu nunca fui um aluno exemplar, mediano para ser direto, e péssimo para alguns professores. Sempre tirei notas para passar de ano, quando não ficava para a recuperação. Mas isso não podia interromper meu sonho de ser um músico.

Chegou o grande dia para a seleção de novos músicos, com novas regras. Os estudantes que tinham notas vermelhas no boletim não poderiam tocar na banda. O professor foi chamando nome por nome dos estudantes que não poderiam participar:

- Bárbara, Guilherme, Higor e Vitória.

Quando ele chamou meu nome, me assustei. Fui direto para um canto e comecei a chorar. Desesperadamente chorei. Eu na minha humilde cabeça pensei que estava discreto aos olhares dos outros estudantes. De repente, apareceu uma menina mais velha da escola me consolando “não fique assim, na próxima fase você consegue”.

Me recompus, mas me questionando que “não deveriam fazer isso comigo. Eu poderia ser um novo Beethoven, Bach, Vivaldi. Ou então, Villa Lobos brasiliense”, pensei enfurecidamente. Eu nem sabia direito quem e qual era a importância desses músicos, só sabia que eles eram famosos.

O tempo foi passando, e nunca mais me interessei por nenhum instrumento musical, nenhum violão sequer. Ainda me pergunto “ao invés daquele não, eu tivesse ganhado um sim, hoje seria um músico? Teria um gosto mais apurado? Escutaria mais música clássica ao invés de forró ou house?”

até breve...

Um comentário:

  1. Pode parecer um "pensamento da carochinha", mas acredito que nada acontece por acaso, que tudo tem o seu tempo e que "depende" (de cada situação). Se você tivesse começado cedo na carreira musical, já que demonstrava um grande interesse pela profissão etc., não significa que seria um baita músico. Poderia iniciar com empolgação e, simplesmente, largar depois, até porque gostos e preferências vivenciadas durante a adolescência (ou melhor, até na velhice) mudam em um piscar de olhos. Ou não. Ou começasse agora e poderia ter retorno, situação que, no passado, talvez, não. Gosto mais apurado??? Huummm... E outra: boas notas não significa nada. Para muitos, isso é só decoreba para passar de série e transbordar os pais de orgulho. De nada adianta se o caboclo não aprender, entender, o que foi exposto, estudado. E vai que em vez de músico o destino não lhe preparou outra aventura. Né? Mas a reflexão do post é trilegal. Gosto disso.

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